terça-feira, 21 de abril de 2020

RESENHA INFORMATIVA SOBRE O LIVRO A FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA DO AUTOR ANTÔNIO CÂNDIDO


I - CÂNDIDO, Antônio.  Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos 1750- 1880. 12 Edição. Comemorativa dos cinquenta anos de lançamento. FADESP/Ouro sobre azul/ São Paulo/Rio de Janeiro/2009.[1]
Joselene Souza Pires[2]
II – REFERENCIAIS SOBRE O AUTOR
Antônio Cândido de Mello e Souza, 1918-2017 foi um escritor, crítico literário, sociólogo e professor. Lançada em 1959 sua obra mais influente e polemica é a  Formação da Literatura Brasileira, na qual, estuda os momentos decisivos do sistema literário brasileiro. Cândido escreve no capítulo “Traços Gerais”: O momento decisivo em que as manifestações literárias vão adquirir, no Brasil, características orgânicas de um sistema é marcado por três correntes principais de gosto e pensamento: o Neoclassicismo, a Ilustração e o Arcadismo.

III-EXPOSIÇÃO SINTÉTICA DO CONTEÚDO DO TEXTO
Em 1959 surgiu a obra de Antônio Cândido Formação da Literatura Brasileira onde o autor elabora cautelosamente os conceitos, os sistemas e também a continuidade literária. O crítico pretendeu construir na sua mais reverente obra uma relação entre os escritos e os escritores, que participam ativamente da obra, Cândido cita as principais obras de produções literárias nacionais e assim formar a nossa literatura, o que compreendemos hoje como literatura brasileira, graças a essa obra, podemos ter uma compreensão mais avançada da nossa própria literatura e assim, poder compreender os próprios literários nacionais que trazem informações riquíssimas sobre a formação do cãnon literário, procurando assim, uma forma de desintegrar do modelo arcádico europeu muito ainda presente aqui.

TEXTO I- UM INSTRUMENTO DE DESCOBERTA E INTERPRETAÇÃO
PARTE I

“No Brasil o romance romântico, nas suas produções mais características (em Macedo, Alencar, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Taunay), elaborou a realidade graças ao ponto de vista, a posição intelectual e afetiva que norteou todo o nosso Romantismo, a saber, o nacionalismo literário.” (p.431)
‘’Nacionalismo na literatura brasileira, constituiu basicamente, como vimos, em escrever coisas sobre locais; no romance, a consequência imediata e salutar foi a descrição de lugares, cenas, fatos, costumes do Brasil. É o vínculo que une o  as  Memórias de um Sargento de Milícias ao Guarani e a Inocência,  e significa, por vezes, menos o impulso espontâneo de descrever a nossa realidade, do que a intenção programática, a resolução patriótica de fazê-lo.”     (p. 431)

COMENTÁRIO:            
A intenção que rege todo esse movimento romancista é a valorização da nossa própria nação em busca de não somente um novo modelo literário, mas também entre outros vários aspectos do nacionalismo no geral, o Romantismo surge como uma espécie de intervenção ao modelo Arcádico, pretendendo assim, uma visão de realidade que difere totalmente do modelo universalista existente.

TEMAS E EXPRESSÕES
PARTE II
“O desenvolvimento do romance brasileiro, de Macedo eJorge  Amado , mostra quanto a nossa literatura tem sido consciente de sua aplicação social e responsabilidade na construção de uma cultura. Os românticos, em especial, se achavam possuídos, quase todos, de um senso de missão, um intuito de exprimir a realidade  específica de sociedade  brasileira. E o fato de não terem produzidos grandes literaturas (longe disso) mostra como são imprescindíveis a consciência propriamente artística e a simpatia clarividente do leitor- coisas que não encontramos senão excepcionalmente no Brasil oitocentista. A vocação pública, o senso de dever literário não bastam, de vez que o próprio alcance social de uma obra é decidida pelo sua densidade artística e a receptividade que desperta em certos meios.” (p. 434)

COMENTÁRIO:
Os românticos buscavam a todo custo uma espécie de exaltação nacional, e para isso, precisavam de escritores e leitores empenhados nessa ordem, pois necessitavam de uma construção não somente literária, mas também em outros aspectos que valorizasse em todos os sentidos as produções aqui existentes, criando assim uma identidade nacional capaz de produzir e também de progredir como uma nação independente.

TEXTO II- OS PRIMEIROS SINAIS
PARTE III
“No decênio de 1830, a tradução foi todavia incentivo de primeira ondem, criando no público o hábito do romance  e despertando interesse dos escritores. É preciso considerar não apenas os folhetins, mas as traduções em volume, publicadas aqui ou chegadas abundantemente de Portugal e da França. Os tradutores brasileiros eram muitas vezes de boa qualidade, como Caetano Lopes de Moura – médico dos exércitos de Napoleão, cuja biografia escreveu, ou melhor, compilou; que publicou um pouco de tudo para viver, em Paris, inclusive algo muito útil aos seus patrícios: uma Arte se curar a si mesmo das doenças venéreas (1839).” (p.440)
COMENTÁRIO:
Como entendimento dessa passagem, para um bom desempenho literário não contava somente a produção, mas também com o público para quem estava sendo direcionadaessas produções e publicações, a vaidade também fazia parte dessa nova formação, pois,  Portugal e França eram  pioneiras  nas produções,  não só literárias, como também  modelo universalista por isso era algo “útil aos seus patrícios.”

TEXTO III- SOB O SIGNO DO FOLHETIM: Teixeira e Souza.
PARTE I
O culto da peripécia/ Se procurarmos analisar os elementos da ficção de Teixeira e Souza ( hesito em escrever – a sua arte), talvez  possamos distinguir quatro: peripécia, digressão, crise psíquica, conclusão moral.”
“A peripécia não é um acontecimento qualquer, mas aquele cuja ocorrência pesa, impondo-se aos personagens, influindo decisivamente no seu destino e no curso de sua narrativa. Ela é pois, em literatura, um acontecimento privilegiado, na medida em que(já vimos a propósito de Magalhães) é a verdadeira mola do entrecho, governando tiranicamente o personagem. Nos livros de Teixeira e Souza, este só se define por meio dela; não passa de elemento na concatenação dos acontecimentos, que, estes sim, constituem a alma, o esqueleto e o nervo do livro.” (p.445)

COMENTÁRIO:
As peripécias faziam parte exclusivamente da literatura nesse contexto de modificar um corpo literário, não é um acontecimento qualquer, como diz o autor nessa passagem, pois participa ativamente do enredo narrado, não é apenas mais um elemento, é um elemento que dispara o movimento da narrativa.
Outros elementos: “O segundo elemento da ficção de Teixeira e Souza, a que se chamou aqui digressão, consiste nessa sobrevivência dos romances medievais que é o elemento de histórias secundárias.” (p.447)

COMENTÁRIO:
Diferente do primeiro elemento, mas também de suma importância literária. Como por exemplo em Teixeira e Sousa, segundo o autor, são quase sempre os protagonistas que dão lugar a Digressão, que para ele não seria algo justaposto, mas essencial a narrativa.
“O terceiro elemento faz as vezes da análise psicológica, e aparece como violenta crise moral, que acomete a personagem a certa altura, fazendo-o sentir os seus crimes, medir o seu desespero, capacitar-se da sua situação em que se está.” (p.447)

COMENTÁRIO:
A crise moral como já nos dá uma ideia de entendimento, é o mais fácil de entender, mas talvez o mais difícil de explicar, principalmente vivenciar. Pois além de intensificar o enredo por causa das situações que se encontra as personagens, como, desespero, crimes e ao mesmo tempo capacitar-se diante dessas circunstancias para, como Victor Hugo chama a Vigília Trágica de Jean Valjean, dilacerado entre deixar condenar o homem que supõem ser ele próprio ( e assim conquistar a tranquilidade para sempre) esse é o dilema e ao mesmo tempo a contradição da Crise moral.

TEXTO I- RAÍZES DA CRÍTICA ROMANTICA
PARTE V
“Ao descrever os sentimentos e as ideias de um dado período literário elaboramos frequentemente um ponto de vista que existe mais em nós, segundo a perspectiva da nossa época dos que nos indivíduos que o interagem. Para contrabalançar a deformação excessiva deste processo, aliás, inevitável, é conveniente um esforço de determinar o que eles próprios diziam a respeito; de que modo exprimiam as ideias que sintetizamos  e interpretamos.” (p.635)

COMENTÁRIO:
Assim como a literatura nos permite permear e até mesmo diferir daquilo que estamos lendo, também é valido como nessa passagem termos um ponto de vista propriamente nosso e que possa ou não interagir com nossa época, mas é fundamental analisarmos com atenção as ideias expostas pelo fato dos conhecimentos contidos ali, ate porque a visão deles é tão quanto interessante como a nossa maneira que interpretamos tudo isso.
“[...] Daí um persistente exotismo, que eivou a nossa visão de nós mesmos até hoje, levando-nos a nos encarar como faziam os estrangeiros, propiciando, nas letras, a exploração do pitoresco no sentido europeu, como se estivéssemos condenados a exportar produtos tropicais também na cultura espiritual.” (p. 639)

COMENTÁRIO:
Nessa passagem é muito interessante, pois toca no nosso ponto “fraco” para não dizer, na nossa maior luta de todos os tempos, pois ainda que aconteceu uma  ruptura significativa no meio social, a literatura entre também outros aspectos muito ficam ainda a desejar, pois o modelo europeu ainda é muito forte aqui, e não é por causa da falta de beleza natural, de artes no geral, de produções maravilhosas, de talentos não, como brasileira, sem querer ser muito patriota, digo  que a nossa nação muito tem a contribuir que de alguma forma o modelo nacional de qual tanto desejamos fica um pouco ou muito a integrar com o modelo europeu, pois a nossa independência muito ainda está lá, na dependência europeia!

TEXTO II- TEORIA DA LITERATURA BRASILEIRA
PARTE VI

“A crítica brasileira do tempo do romantismo é quase toda muito medíocre, girando em torno das mesmas ideias básicas, segundo os mesmos recursos de expressão. Não se pode todavia negar-lhe compreensão  do fenômeno que tinha lugar  sob as suas vistas, e cujo sentido geral aprendeu bem, graças as indicações iniciais dos escritores franceses, embora nem sempre haja percebido os seus aspectos particulares.” (p.643)
“Provavelmente, as linhas internas de desenvolvimento não teriam conduzido a nossa literatura aonde foi depois de 1830; a renovação, dependeuentão, como sempre, do que se passava em nossas matrizes culturais.”  (p.643)

COMENTÁRIO:
Para chegarmos ate aqui, para conhecemos um pouco bem explicito da formação da literatura brasileira nessa obra, a crítica é a que mais prevalece nesse sentido de tentar formar uma literatura nossa, não foi fácil, não por falta de talentos entre outros aspectos fundamentais, mas por intermédio de modelos universalistas que estavam ou ainda está impregnado na nossa nação, por isso essa renovação, essa perspectiva de posse  literária exposta aqui, é muito interessante para nossa formação.

TEXTO III- CRÍTICA RETÓRICA
PARTE VII
“O Romantismo e o Nacionalismo legaram uma grande aversão pela retórica dos neoclássicos, que pareciam representar o próprio código da escravidão literária.Aquelas  regras constritora, originadas havia mais de dois mil anos, exprimiam o avesso do espírito criador, que, em princípio, se justificava não pela adesão a modelos genéricos, mas pela expressão livre de talento.”  (p.658)

COMENTÁRIO:
A formação da literatura brasileiradeu-se  a partir do Romantismo e o Nacionalismo, pois visavam uma maneira diferente de progresso nacional , que os neoclássicos tanto neutralizavam,  a parir dessa ideia romancista introduzida especialmente por Magalhães, deu inicio a uma nova conquista literária, mas ainda assim, a ruptura com Portugal, de fato não aconteceu, segundo Cândido. Houve uma ruptura de cunho político, mas não literária como tanto fez que ainda muito há de fazer.

TEXTTO IV- FORMAÇÃO DO CÃNON LITERÁRIO
PARTE VIII
“A investigação biográfica/ “Além da iniciativa de elaborar um corpus pela publicação de textos, a tarefa imediata rumo a história literária eram as biografias, isto é, os conhecimentos dos indivíduos responsáveis pelos textos, como exigia cada vez mais a nova crítica, adequada ao espírito romântico.  A ela se atiraram muito ao brasil.” (p.665)

COMENTÁRIO:
O que os românticos buscavam nessa nova fase de publicações de textos, o desempenho dos escritores e principalmente a biografia quemuito constava, era a nova realidade nacional, os conhecimentos dos escritores, e tudo isso necessitam de agilidades certeiras, mas nem todos possuíam senso de sabedoria, de rapidez, de conhecimento mesmo,  para ingressar nessa do espírito romântico de renovação e também de valorização nacional.  E a exaltação se fazia presente em todas as publicações justamente para fazer valer essa de “embelezamento de herói”não referente as biografias, mas também os conteúdos de produções. 
CRÍTICA VIVA                     
PARTE IX
“Se procurarmos uma crítica viva, empenhando a personalidade e revelando preocupação literária mais exigente, só a encontraremos em alguns poucos ensaios, artigos, prefácios, polemicas, na maioria incursões ocasionais de escritores orientados por outros gêneros:Dutra e Mello, Junqueira Freire,  Alvares de Azevedo, José de Alencar, Franklin Távora , Francisco Otaviano, Bernardo Guimarães, Gonçalves Dias; no fim do período, alguns artigos excelentes de Machado de Assis.” (p. 670)

COMENTÁRIO:
A natureza crítica literária foi dotada de grande argumentos equivalentes a grande necessidade de ajustamento e de reconhecimento de uma nação capaz de produzir e formar a sua própria  cultura. Nessa passagem, vimos que essa preocupação literária se fazia presente a todo  momento,  havia ali uma parceria forte entre os escritores, uma espécie de complemento nas produções literárias, na qual tinha orientações por outros gêneros, como foi citados na passagem selecionada.











[1]Resenha crítica solicitada pelo docente Dr. Oton Magno Santana Dos Santos para obtenção de crédito parcial da disciplina Cânones e Contextos na Literatura brasileira da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias Campus XX – Brumado, em Julho de 2017.

[2]Graduanda do IV Semestre do Curso de Letras Vernáculas da UNEB, DCHT Campus XX – Brumado, em Julho de 2017.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

HANDAUT SOBRE O LIVRO LÍNGUA TEXTO E ENSINO: OUTRA ESCOLA POSSÍVEL / IRANDÉ ANTUNES

                                                       Joselene Souza Pires LÍNGUA, TEXTO E ENSINO: outra escola possível Escrita...