terça-feira, 21 de abril de 2020

RESENHA DESCRITIVA SOBRE O ARTIGO, DA FALA PARA A LEITURA: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA





RESENHA DESCRITIVA SOBRE O ARTIGO
DA FALA PARA A LEITURA: análise variacionista dos autores Demerval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino

Joselene Souza Pires[1]



RESUMO: A presente resenha descritiva é do artigo publicado em 2012 sobre Leitura Dialetal dos autores Dermeval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino, vem trazendo o resultado das pesquisas e as análises dos fenômenos variáveis observados, no caso, Ditongação, Monotongação, Apagamento da Ocluisva ‘d’ do grupo NDO. Os autores vêm trazendo um panorama sobre os estudos variacionistas e enfatizando sobre a importância do espaço que os estudos sociolinguísticos têm ocupado no meio educacional e tem a finalidade de expor e justificar as causas de como ocorrem às variações linguísticas e o porquê dessas variações. Trazem, também, em suas abordagens fatos que demostram as regras que estruturam tais variações. A sociolinguística estuda a variação linguística presente em uma dada comunidade de fala, neste presente trabalho, ressaltamos a importância do conhecimento da variação linguística existente na nossa língua do dia- dia.
As análises de processos variáveis voltados para a leitura, contemplando a variação linguística na leitura oral de alunos da primeira fase do ensino fundamental. Apontando a relação entre o que o aluno fala e o que o aluno lê, foram analisadostrês processos de formas variantes na oralização do texto escrito e sua interferência no processo de leitura oral.


METODOLOGIA


     Os dados apresentados no artigo Da fala para a Leitura: uma análise variacionista são de uma pesquisa realizada em uma escola pública no município de Guarabira-PB. O corpus da pesquisa é composto por leitura de um texto realizada por 30 (trinta) alunos do 3º ao 5º ano do ensino fundamental pertencentes à classe socioeconômica baixa e idade variando entre 08 e 11 anos. Crianças em idade escolar compatível, em média, com o ano cursado. Aos alunos, foi apresentado um texto e solicitada a leitura individual em voz alta; antes de proceder à leitura para gravação, o aluno tinha um primeiro contato com o texto. Segundo os pesquisadores,assim que ele sinalizasse que estava pronto, tinha início a gravação da leitura em voz alta. Como o procedimento metodológico guiou-se por uma concepção sociolinguística, mesmo estando em uma situação de linguagem que exigia certo monitoramento da fala, os alunos foram estimulados a fazerem uma leitura o mais natural possível.

    Os autores Demerval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino(2012) utilizaram o procedimento da leitura gravada foi transcrita ortograficamente e, em seguida, foi feita a codificação e quantificação dos dados para a análise. Foram estabelecidos alguns fenômenos variáveis para serem analisados: monotongação, ditongação, apagamento do ‘d’ no grupo – ndo, apagamento do rótico, rotacismo, simplificaçãodo grupo consonantal etc. Apenas os três primeiros serão aalisados. Em seguida, os dados codificados e quantificados foram submetidos ao tratamento estatístico por meio do pacote de programa estatístico R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2007), para que pudesse ser obtida a frequência de ocorrência de cada forma variante em cada ano pesquisado.
                                           
 LEITURA DIALETAL                      

    Os autores retratam sobre as primeiras contribuições do estudo da variação para a educação, afirmando que os primeiros estudos foram trazidas pelas pesquisas de Labov sobre o inglês dos negros nos Estados Unidos. As pesquisas Laboviana trazem os resultados de uma visão da época emque as crianças falantes dessa variedade do inglês apresentavam deficiências de habilidades linguísticas. Tais estudos contribuíram para a valorização dos dialetos falados pelos grupos minoritários. No campo da leitura, ressalta-se a importante contribuição das pesquisas de Labov e Baker (2001, 2003). Trazendo teóricos que trabalharam os processos de leitura oral com crianças de classes minoritárias(afro-americanos, latinos e brancos) e mostram como a língua da comunidade dessas crianças influencia a leitura oral.  Segundo Hora(2012), os autores (Labov e Baker) diferenciam os erros de leitura (decodificação errada da palavra) dos supostos erros decorrentes da influência do dialeto do aluno. Eles defendem que os perfis de erro de leitura de grupos étnicos são, de certo modo, previsíveis da estrutura de suas línguas maternas e que métodos de leitura que levam em conta as diferenças étnicas, sociais e econômicas, terão êxito, reduzindo a diferença no aprendizado de leitura.
            No Brasil, destacam-se as pesquisas de Bortoni-Ricardo (2004) em que enfatiza o monitoramento da fala para a análise do português brasileiro no ambiente escolar e em outros ambientes sociais. Bortoni-Ricardo (2005) denomina de Sociolinguística Educacional todas as propostas e pesquisas que tenham por objetivo contribuir para o aperfeiçoamento do processo educacional.
Trazem também as importantes contribuições das pesquisas de Mollica (1998, 2003) com análise de formas variantes da fala e sua possível influência na escrita de alunos da educação básica. No artigo observado para a produção da presente resenha descritivafoi investigada a influência de formas variantes da fala na leitura de alunos da primeira fase do ensino fundamental.

CONCORDÂNCIA NOMINAL

A concordância nominal é o acordo entre o nome (substantivo) e seus modificadores (artigo, pronome, número, adjetivo) quanto ao gênero (masculino e feminino) e o número (plural e singular).

“O comportamento linguístico está permanentemente submetido a múltiplas e co-ocorrentes fontes de influências relacionadas aos diferentes aspectos da identidade social, tais como sexo, idade, inserção no sistema de produção e pertencimento a grupo étnico, religioso, de vizinhança, etc. Quando falamos, movemo-nos num espaço sociolinguístico multidimensional e usamos os recursos da variação linguística para expressar essa ampla e complexa gama de identidades distintas.” (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 175-176).
                    
MONOTONGAÇÂO

O sistema ortográfico do português do Brasil, representado nas gramáticas normativas e nos manuais de ensino da língua, reconhece como ditongo o encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma sílaba. Funcionam como semivogais o i e o u, que são representados fonologicamente por /y/ e /w/. No entanto, nem todo vocábulo que comporta um ditongo na escrita tem o mesmo comportamento na fala espontânea. Assim, em vocábulos como faixa, feira, vários, que o sistema ortográfico considera portadores de ditongo, na língua falada, esses mesmos vocábulos podem comportar uma vogal simples, o monotongo, <faxa>, <fera>, <varos>; já outros, como leite, jeito, pai, por exemplo, não permitem oapagamento da semivogal. Contudo, essa particularidade do ditongo quase não é discutida nas gramáticas normativas.
No português do Brasil a monotongação tem sido abordada por vários estudiosos: Bisol (1989, 1994), Paiva (1996a, 1996b), Silva (1997, 2004), Mollica (1998), tanto na linguagem oral quanto na escrita.  No que se refere à linguagem falada, o uso variável da forma monotongada é observada na fala de diversas comunidades brasileiras, fato verificado através dos vários estudos de cunho variacionista em diversas regiões do País (PAIVA, 1996a, 1996b; SILVA, 1997, 2004).
                                               
APAGAMENTO DA OCLUSIVA‘d’ NO GRUPO - NDO

Os autores Demerval da Hora e  Maria de Fátima S. Aquino (2012), mostram que os fenômeno em análise consiste no resultado da assimilação do fonema /d/ pelo fonema /n/ em contextos como: imaginando ~ imaginano, falando ~ falano, quando ~ quano, ou seja, há uma assimilação do /d/ pelo /n/ para, em seguida, haver o apagamento do fonema (-nd- > -nn- > -n-). Este processo de apagamento da oclusiva /d/ não é exclusividade do português brasileiro; ele está presente também em outras línguas (MARTINS, 2004).
Os autores trazem pesquisas como referencias com o objetivo de observar a influência da fala na escrita, Mollica (1998) analisou a assimilação da dental em -ndo na escrita de alunos da 5ª à 8ª série. Os resultados mostraram que fatores linguísticos e sociais, como a extensão do item lexical, escolaridade, sexo relevantes para a assimilação do fenômeno na fala foram, também, relevantes na escrita. A autora destaca que os ambientes favorecedores da assimilação da dental são os de maior dificuldade para a aprendizagem da escrita.

  
CONSIDERAÇÕES FINAIS

   Por fim, os autores mostram em sua pesquisa DA FALA PARA A LEITURA: análise variacionista as análises dos dados: ditongação, monotongação e apagamento do ‘d’ no grupo – ndo. Os resultados quantitativos apresentados mostram aspectos interessantes dos fenômenos variáveis pesquisados.
Revelando as porcentagens dos dados extraídos de cada fenômeno e embasando com outros autores que também retratam os fenômenos variáveis da língua.
Segundo os autores, os resultados do artigo descrito mostram uma realidade de sala de aula escassa de discussões e conhecimentos no cenário acadêmico e educacional. O conhecimento, por parte do professor, das formas variantes na leitura dos alunos e sua interferência no processo de ensino/aprendizagem são muito importantes para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno no ambiente escolar e fora dele. Trazem, também, a importância dos estudos sociolinguísticos de base variacionistaque têm contribuído de forma significativa ao trazer à tona variedades linguísticas presentes em qualquer ambiente social, dentre eles, o escolar. O trabalho de sala de aula que leva em consideração esses aspectos possibilita, ao aluno, a compreensão das variadas formas de uso da língua.
   Por ser uma realidade ativa os usos das variedades linguísticas, também, ressaltamos a importância de poder trabalhar essa realidade ainda pouco discutida e que temos muito a discutir.
Demerval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino(2012) trazem em seus  artigos outros resultados de pesquisas voltados para a variação linguística. Os dados apresentados relatamo inicio das pesquisas, segundo os autores em questão, em 1993, foi iniciado o Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba – VALPB, apoiado pelo CNPq, tendo como principal objetivo traçar o perfil linguístico do falante paraibano, considerando os aspectos fonológicos, gramaticais e textuais. A estratificação social do projeto contemplou as seguintes restrições: sexo, anos de escolarização e faixa etária. Ao todo, foram entrevistados 60 informantes, por cerca de 45 a 60 minutos de gravação com cada um deles. Os dados, depois de transcritos e armazenados eletronicamente e também editados sob forma impressa, serviram de base para análises as mais variadas possíveis.


REFERÊNCIAS


BORTONI- RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora?              Sociolinguística e educação – São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
Da fala para a leitura: análise variacionista.


HORA, D.; AQUINO, M. F. From speech toreading: variationanalysis. Alfa, São Paulo, v.56, n.3, p.1089-1105, 2012.


                                              










[1] Resenha descritiva solicitada pela  Ma. Maria Aparecida de Souza Guimarães para a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – Tcc no VIII semestre do curso de Letras Vernáculas, Campus XX – Uneb – Brumado.


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