terça-feira, 21 de abril de 2020

HANDAUT SOBRE O LIVRO LÍNGUA TEXTO E ENSINO: OUTRA ESCOLA POSSÍVEL / IRANDÉ ANTUNES



                                                       Joselene Souza Pires


LÍNGUA, TEXTO E ENSINO: outra escola possível
Escrita de textos na escola: De olho na diversidade[1]
                                                                                                                     
Irandé Antunes


A autora:
Irandé Antunes, é graduada em línguas neolatinas pela Universidade Federal do Ceará, fez especialização em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco e é Doutora em Linguística pela Universidade de Lisboa. Leciona pela Universidade Estadual do Ceará e atua como especialista em língua portuguesa junto ao Ministério da Educação e à Secretaria de Educação de Pernambuco. É autora de Aspectos de Coesão de texto; Aula de Português: encontro e interação; Lutar com palavras: coesão e coerência; Muito Além da Gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho; Análises de textos: fundamentos e práticas e Território das palavras: estudo de léxico em sala de aula.
           

Resumo:
  • O texto Escrita de textos na escola: de olho na diversidade, tem o objetivo de discutir as questões mais inquietantes no Ensino de Línguas nas escolas. Irandé Antunes traz diversas problemáticas que precisam ser debatidas de dentro para fora das instituições escolares. São questões fundamentais para o nosso conhecimento diário e é de interesse de todos, principalmente pra nós estudantes. Segundo, Antunes (2009), para sermos capazes de alfabetizar, fazer crescer o letramento dos alunos e ampliar as competências mais significativas para as atividades sociais, interativas, relativas aos usos literários ou não das línguas, os professores precisam estar conscientes das amplas funções desempenhadas pelo uso das línguas na construção das identidades nacionais e na participação dos indivíduos nas mais diferentes formas de promover o desenvolvimento das pessoas e dos grupos sociais; precisam saber mais sobre as questões sociais – coesão, coerência, graus de informatividade de um texto  –  sobre os vazios linguísticos e pragmaticamente autorizados pelos contextos da interação; incluindo as implicações lexicais, gramaticais e discursivas da diversidade de tipos e de gêneros de textos;  precisam saber mais sobre as grandes funções da leitura e da escrita; na verdade, precisam saber como promover a gradativa inserção do indivíduo no mundo da escrita, ou melhor, no mundo da cultura letrada; precisam saber como articular ensino e avaliação, avaliação e ensino.

Nessa visão, Irandé Antunes nos despertam para um trabalho mais voltado para a realidade social, buscando uma cumplicidade entre a interação social e a instituição escolar, entre o que é vivido e o que é ensinado entre a comunidade e a escola. Priorizando um ensino mais significativo e inovador. O texto Escrita de textos na escola: de olho na diversidade traz diversas leituras que nos impulsiona para uma nova realidade. Sabemos das dificuldades de trazermos novas visões para o campo escolar, pois estas, ainda estão distantes de muitas instituições escolares. Neste objetivo, Antunes ressalta importância desses debates em salas de aulas, nas escolas, nas universidades em busca de uma mudança, ainda que seja lenta, mas é necessária.
                                          
Conceitos/Conceituações relevantes

Língua e variação: “A questão da variação linguística tem contemplado as múltiplas possibilidades de a língua realizar-se, atendendo as diferenças do lugar, do meio social ou da situação sociocultural em que a atividade verbal ocorre.” (ANTUNES, 2009, p. 207).
                     
 “variações, por exemplo, do português falado em diferentes regiões do Brasil, ou entre o português de Portugal e o português do Brasil têm merecido atenção aqui e lá” (ANTUNES, 2009, p. 207).

 “No entanto, a língua escrita ainda não recebeu esse “olhar” que enxerga as suas  diferenças de uso; ou seja, ainda parece subsistir a impressão de uma língua escrita uniformemente, totalmente estável, sem variações.” (ANTUNES, 2009, p. 207).

Língua escrita, variação e gêneros textuais: “Para Antunes (2009), pode-se, admitir, portanto, o princípio de que a língua varia também na sua modalidade escrita, em decorrência da imposição de adequar-se às diferentes situações de uso em que se insere.” (p. 209).

“os textos estão sempre em correlação com os fatores contextuais presentes à situação de comunicação, o que, de certa forma, influencia ate mesmo a escolha do tipo e do gênero a ser escrito.” (ANTUNES, 2009, p. 209).

“dentro dessa perspectiva da variação dos textos em função dos contextos em que circulam, a linguística, sobretudo aquela de orientação pragmática, tem proposto e desenvolvido a categoria discursiva de Gêneros textuais, na pretensão de caracterizar as especificidades das manifestações culturais concernentes ao uso da língua ao uso da língua e de facilitar o tratamento cognitivo desse uso, seja oral, seja escrito.” (ANTUNES, 2009, p. 210).

Língua escrita, variação e ensino: “para começo de conversa, temos em conta que o desempenho dos alunos, na escrita, não tem correspondido, em geral, ao dispêndio de tempo e de recursos envolvidos na atividade pedagógica do ensino da língua.” (ANTUNES, 2009, 212).

“As motivações para escrever nas escolas deveriam inspirar-se nas motivações que temos para escrevermos fora dela.” (ANTUNES, 2009, p. 214).

“Que cheguemos, já, a um ensino de línguas que, em cada momento, estimule a compreensão, a fluência, o intercâmbio, a atuação verbal como forma de participação nossa na construção de um mundo, inclusive linguisticamente, mais solidário e mais libertador.” (ANTUNES, 2009, p. 216).

Parecer:
A leitura desse texto é de suma importância para os estudantes não somente de Letras, mas para todos que acompanham ou buscam as novidades, inovações, indagações entre outras atividades relacionadas aos ensinos das instituições escolares.
O texto apresenta uma linguagem objetiva, ressaltando e indagando sobre as práticas de ensino que há muito tempo necessitam de novos olhares, Irandé Antunes traz nesse texto, essa preocupação em problematizar várias questões sobre o ensino da língua nas escolas. É de fato, necessário lançar este olhar inovador que abre inúmeras possibilidades de trazer algumas mudanças no âmbito linguístico escolar. Neste texto, a autora visa novas práticas de ensino da língua que nos faz pensar em uma escola mais interativa que trabalhe todo o conjunto da obra.  As práticas de leituras, de escritas e de ensino precisam dessa atenção.
A diversidade linguística faz parte do meio no qual estamos inseridos e, é de suma importância temos o conhecimento, a percepção e principalmente a recepção dessa variedade existente não somente na oralidade das pessoas, mas também na escrita, segundo Antunes, não existe uma escrita uniforme, existem meios diversificados de escritas e isso é relevante para o nosso meio e principalmente para o ensino e compreensão da língua. É fundamental  trazermos o debate dessas problemáticas para o meio escolar, necessitamos desse olhar, desse nova orientação, muitas das práticas de ensino não surte efeitos significativos exatamente por está tradicionalmente inalterável, e quando falamos de práticas de ensino, sabemos que algumas mudanças são necessárias para serem significativas. Neste parecer, trago essa reflexão que é de grande importância para o nosso meio. E quando falamos em reflexão, consequentemente, por mais difícil que seja, pois sabemos que a própria escola é um empecilho para tal mudança.  É necessário trazermos isso na prática para melhor desempenho profissional e para um ensino mais qualitativo das línguas. 








[1] ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível, São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

RESENHA DESCRITIVA SOBRE O ARTIGO, DA FALA PARA A LEITURA: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA





RESENHA DESCRITIVA SOBRE O ARTIGO
DA FALA PARA A LEITURA: análise variacionista dos autores Demerval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino

Joselene Souza Pires[1]



RESUMO: A presente resenha descritiva é do artigo publicado em 2012 sobre Leitura Dialetal dos autores Dermeval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino, vem trazendo o resultado das pesquisas e as análises dos fenômenos variáveis observados, no caso, Ditongação, Monotongação, Apagamento da Ocluisva ‘d’ do grupo NDO. Os autores vêm trazendo um panorama sobre os estudos variacionistas e enfatizando sobre a importância do espaço que os estudos sociolinguísticos têm ocupado no meio educacional e tem a finalidade de expor e justificar as causas de como ocorrem às variações linguísticas e o porquê dessas variações. Trazem, também, em suas abordagens fatos que demostram as regras que estruturam tais variações. A sociolinguística estuda a variação linguística presente em uma dada comunidade de fala, neste presente trabalho, ressaltamos a importância do conhecimento da variação linguística existente na nossa língua do dia- dia.
As análises de processos variáveis voltados para a leitura, contemplando a variação linguística na leitura oral de alunos da primeira fase do ensino fundamental. Apontando a relação entre o que o aluno fala e o que o aluno lê, foram analisadostrês processos de formas variantes na oralização do texto escrito e sua interferência no processo de leitura oral.


METODOLOGIA


     Os dados apresentados no artigo Da fala para a Leitura: uma análise variacionista são de uma pesquisa realizada em uma escola pública no município de Guarabira-PB. O corpus da pesquisa é composto por leitura de um texto realizada por 30 (trinta) alunos do 3º ao 5º ano do ensino fundamental pertencentes à classe socioeconômica baixa e idade variando entre 08 e 11 anos. Crianças em idade escolar compatível, em média, com o ano cursado. Aos alunos, foi apresentado um texto e solicitada a leitura individual em voz alta; antes de proceder à leitura para gravação, o aluno tinha um primeiro contato com o texto. Segundo os pesquisadores,assim que ele sinalizasse que estava pronto, tinha início a gravação da leitura em voz alta. Como o procedimento metodológico guiou-se por uma concepção sociolinguística, mesmo estando em uma situação de linguagem que exigia certo monitoramento da fala, os alunos foram estimulados a fazerem uma leitura o mais natural possível.

    Os autores Demerval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino(2012) utilizaram o procedimento da leitura gravada foi transcrita ortograficamente e, em seguida, foi feita a codificação e quantificação dos dados para a análise. Foram estabelecidos alguns fenômenos variáveis para serem analisados: monotongação, ditongação, apagamento do ‘d’ no grupo – ndo, apagamento do rótico, rotacismo, simplificaçãodo grupo consonantal etc. Apenas os três primeiros serão aalisados. Em seguida, os dados codificados e quantificados foram submetidos ao tratamento estatístico por meio do pacote de programa estatístico R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2007), para que pudesse ser obtida a frequência de ocorrência de cada forma variante em cada ano pesquisado.
                                           
 LEITURA DIALETAL                      

    Os autores retratam sobre as primeiras contribuições do estudo da variação para a educação, afirmando que os primeiros estudos foram trazidas pelas pesquisas de Labov sobre o inglês dos negros nos Estados Unidos. As pesquisas Laboviana trazem os resultados de uma visão da época emque as crianças falantes dessa variedade do inglês apresentavam deficiências de habilidades linguísticas. Tais estudos contribuíram para a valorização dos dialetos falados pelos grupos minoritários. No campo da leitura, ressalta-se a importante contribuição das pesquisas de Labov e Baker (2001, 2003). Trazendo teóricos que trabalharam os processos de leitura oral com crianças de classes minoritárias(afro-americanos, latinos e brancos) e mostram como a língua da comunidade dessas crianças influencia a leitura oral.  Segundo Hora(2012), os autores (Labov e Baker) diferenciam os erros de leitura (decodificação errada da palavra) dos supostos erros decorrentes da influência do dialeto do aluno. Eles defendem que os perfis de erro de leitura de grupos étnicos são, de certo modo, previsíveis da estrutura de suas línguas maternas e que métodos de leitura que levam em conta as diferenças étnicas, sociais e econômicas, terão êxito, reduzindo a diferença no aprendizado de leitura.
            No Brasil, destacam-se as pesquisas de Bortoni-Ricardo (2004) em que enfatiza o monitoramento da fala para a análise do português brasileiro no ambiente escolar e em outros ambientes sociais. Bortoni-Ricardo (2005) denomina de Sociolinguística Educacional todas as propostas e pesquisas que tenham por objetivo contribuir para o aperfeiçoamento do processo educacional.
Trazem também as importantes contribuições das pesquisas de Mollica (1998, 2003) com análise de formas variantes da fala e sua possível influência na escrita de alunos da educação básica. No artigo observado para a produção da presente resenha descritivafoi investigada a influência de formas variantes da fala na leitura de alunos da primeira fase do ensino fundamental.

CONCORDÂNCIA NOMINAL

A concordância nominal é o acordo entre o nome (substantivo) e seus modificadores (artigo, pronome, número, adjetivo) quanto ao gênero (masculino e feminino) e o número (plural e singular).

“O comportamento linguístico está permanentemente submetido a múltiplas e co-ocorrentes fontes de influências relacionadas aos diferentes aspectos da identidade social, tais como sexo, idade, inserção no sistema de produção e pertencimento a grupo étnico, religioso, de vizinhança, etc. Quando falamos, movemo-nos num espaço sociolinguístico multidimensional e usamos os recursos da variação linguística para expressar essa ampla e complexa gama de identidades distintas.” (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 175-176).
                    
MONOTONGAÇÂO

O sistema ortográfico do português do Brasil, representado nas gramáticas normativas e nos manuais de ensino da língua, reconhece como ditongo o encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma sílaba. Funcionam como semivogais o i e o u, que são representados fonologicamente por /y/ e /w/. No entanto, nem todo vocábulo que comporta um ditongo na escrita tem o mesmo comportamento na fala espontânea. Assim, em vocábulos como faixa, feira, vários, que o sistema ortográfico considera portadores de ditongo, na língua falada, esses mesmos vocábulos podem comportar uma vogal simples, o monotongo, <faxa>, <fera>, <varos>; já outros, como leite, jeito, pai, por exemplo, não permitem oapagamento da semivogal. Contudo, essa particularidade do ditongo quase não é discutida nas gramáticas normativas.
No português do Brasil a monotongação tem sido abordada por vários estudiosos: Bisol (1989, 1994), Paiva (1996a, 1996b), Silva (1997, 2004), Mollica (1998), tanto na linguagem oral quanto na escrita.  No que se refere à linguagem falada, o uso variável da forma monotongada é observada na fala de diversas comunidades brasileiras, fato verificado através dos vários estudos de cunho variacionista em diversas regiões do País (PAIVA, 1996a, 1996b; SILVA, 1997, 2004).
                                               
APAGAMENTO DA OCLUSIVA‘d’ NO GRUPO - NDO

Os autores Demerval da Hora e  Maria de Fátima S. Aquino (2012), mostram que os fenômeno em análise consiste no resultado da assimilação do fonema /d/ pelo fonema /n/ em contextos como: imaginando ~ imaginano, falando ~ falano, quando ~ quano, ou seja, há uma assimilação do /d/ pelo /n/ para, em seguida, haver o apagamento do fonema (-nd- > -nn- > -n-). Este processo de apagamento da oclusiva /d/ não é exclusividade do português brasileiro; ele está presente também em outras línguas (MARTINS, 2004).
Os autores trazem pesquisas como referencias com o objetivo de observar a influência da fala na escrita, Mollica (1998) analisou a assimilação da dental em -ndo na escrita de alunos da 5ª à 8ª série. Os resultados mostraram que fatores linguísticos e sociais, como a extensão do item lexical, escolaridade, sexo relevantes para a assimilação do fenômeno na fala foram, também, relevantes na escrita. A autora destaca que os ambientes favorecedores da assimilação da dental são os de maior dificuldade para a aprendizagem da escrita.

  
CONSIDERAÇÕES FINAIS

   Por fim, os autores mostram em sua pesquisa DA FALA PARA A LEITURA: análise variacionista as análises dos dados: ditongação, monotongação e apagamento do ‘d’ no grupo – ndo. Os resultados quantitativos apresentados mostram aspectos interessantes dos fenômenos variáveis pesquisados.
Revelando as porcentagens dos dados extraídos de cada fenômeno e embasando com outros autores que também retratam os fenômenos variáveis da língua.
Segundo os autores, os resultados do artigo descrito mostram uma realidade de sala de aula escassa de discussões e conhecimentos no cenário acadêmico e educacional. O conhecimento, por parte do professor, das formas variantes na leitura dos alunos e sua interferência no processo de ensino/aprendizagem são muito importantes para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno no ambiente escolar e fora dele. Trazem, também, a importância dos estudos sociolinguísticos de base variacionistaque têm contribuído de forma significativa ao trazer à tona variedades linguísticas presentes em qualquer ambiente social, dentre eles, o escolar. O trabalho de sala de aula que leva em consideração esses aspectos possibilita, ao aluno, a compreensão das variadas formas de uso da língua.
   Por ser uma realidade ativa os usos das variedades linguísticas, também, ressaltamos a importância de poder trabalhar essa realidade ainda pouco discutida e que temos muito a discutir.
Demerval da Hora e Maria de Fátima S. Aquino(2012) trazem em seus  artigos outros resultados de pesquisas voltados para a variação linguística. Os dados apresentados relatamo inicio das pesquisas, segundo os autores em questão, em 1993, foi iniciado o Projeto Variação Linguística no Estado da Paraíba – VALPB, apoiado pelo CNPq, tendo como principal objetivo traçar o perfil linguístico do falante paraibano, considerando os aspectos fonológicos, gramaticais e textuais. A estratificação social do projeto contemplou as seguintes restrições: sexo, anos de escolarização e faixa etária. Ao todo, foram entrevistados 60 informantes, por cerca de 45 a 60 minutos de gravação com cada um deles. Os dados, depois de transcritos e armazenados eletronicamente e também editados sob forma impressa, serviram de base para análises as mais variadas possíveis.


REFERÊNCIAS


BORTONI- RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola, e agora?              Sociolinguística e educação – São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
Da fala para a leitura: análise variacionista.


HORA, D.; AQUINO, M. F. From speech toreading: variationanalysis. Alfa, São Paulo, v.56, n.3, p.1089-1105, 2012.


                                              










[1] Resenha descritiva solicitada pela  Ma. Maria Aparecida de Souza Guimarães para a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso – Tcc no VIII semestre do curso de Letras Vernáculas, Campus XX – Uneb – Brumado.


RESENHA INFORMATIVA SOBRE O LIVRO A FORMAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA DO AUTOR ANTÔNIO CÂNDIDO


I - CÂNDIDO, Antônio.  Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos 1750- 1880. 12 Edição. Comemorativa dos cinquenta anos de lançamento. FADESP/Ouro sobre azul/ São Paulo/Rio de Janeiro/2009.[1]
Joselene Souza Pires[2]
II – REFERENCIAIS SOBRE O AUTOR
Antônio Cândido de Mello e Souza, 1918-2017 foi um escritor, crítico literário, sociólogo e professor. Lançada em 1959 sua obra mais influente e polemica é a  Formação da Literatura Brasileira, na qual, estuda os momentos decisivos do sistema literário brasileiro. Cândido escreve no capítulo “Traços Gerais”: O momento decisivo em que as manifestações literárias vão adquirir, no Brasil, características orgânicas de um sistema é marcado por três correntes principais de gosto e pensamento: o Neoclassicismo, a Ilustração e o Arcadismo.

III-EXPOSIÇÃO SINTÉTICA DO CONTEÚDO DO TEXTO
Em 1959 surgiu a obra de Antônio Cândido Formação da Literatura Brasileira onde o autor elabora cautelosamente os conceitos, os sistemas e também a continuidade literária. O crítico pretendeu construir na sua mais reverente obra uma relação entre os escritos e os escritores, que participam ativamente da obra, Cândido cita as principais obras de produções literárias nacionais e assim formar a nossa literatura, o que compreendemos hoje como literatura brasileira, graças a essa obra, podemos ter uma compreensão mais avançada da nossa própria literatura e assim, poder compreender os próprios literários nacionais que trazem informações riquíssimas sobre a formação do cãnon literário, procurando assim, uma forma de desintegrar do modelo arcádico europeu muito ainda presente aqui.

TEXTO I- UM INSTRUMENTO DE DESCOBERTA E INTERPRETAÇÃO
PARTE I

“No Brasil o romance romântico, nas suas produções mais características (em Macedo, Alencar, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Taunay), elaborou a realidade graças ao ponto de vista, a posição intelectual e afetiva que norteou todo o nosso Romantismo, a saber, o nacionalismo literário.” (p.431)
‘’Nacionalismo na literatura brasileira, constituiu basicamente, como vimos, em escrever coisas sobre locais; no romance, a consequência imediata e salutar foi a descrição de lugares, cenas, fatos, costumes do Brasil. É o vínculo que une o  as  Memórias de um Sargento de Milícias ao Guarani e a Inocência,  e significa, por vezes, menos o impulso espontâneo de descrever a nossa realidade, do que a intenção programática, a resolução patriótica de fazê-lo.”     (p. 431)

COMENTÁRIO:            
A intenção que rege todo esse movimento romancista é a valorização da nossa própria nação em busca de não somente um novo modelo literário, mas também entre outros vários aspectos do nacionalismo no geral, o Romantismo surge como uma espécie de intervenção ao modelo Arcádico, pretendendo assim, uma visão de realidade que difere totalmente do modelo universalista existente.

TEMAS E EXPRESSÕES
PARTE II
“O desenvolvimento do romance brasileiro, de Macedo eJorge  Amado , mostra quanto a nossa literatura tem sido consciente de sua aplicação social e responsabilidade na construção de uma cultura. Os românticos, em especial, se achavam possuídos, quase todos, de um senso de missão, um intuito de exprimir a realidade  específica de sociedade  brasileira. E o fato de não terem produzidos grandes literaturas (longe disso) mostra como são imprescindíveis a consciência propriamente artística e a simpatia clarividente do leitor- coisas que não encontramos senão excepcionalmente no Brasil oitocentista. A vocação pública, o senso de dever literário não bastam, de vez que o próprio alcance social de uma obra é decidida pelo sua densidade artística e a receptividade que desperta em certos meios.” (p. 434)

COMENTÁRIO:
Os românticos buscavam a todo custo uma espécie de exaltação nacional, e para isso, precisavam de escritores e leitores empenhados nessa ordem, pois necessitavam de uma construção não somente literária, mas também em outros aspectos que valorizasse em todos os sentidos as produções aqui existentes, criando assim uma identidade nacional capaz de produzir e também de progredir como uma nação independente.

TEXTO II- OS PRIMEIROS SINAIS
PARTE III
“No decênio de 1830, a tradução foi todavia incentivo de primeira ondem, criando no público o hábito do romance  e despertando interesse dos escritores. É preciso considerar não apenas os folhetins, mas as traduções em volume, publicadas aqui ou chegadas abundantemente de Portugal e da França. Os tradutores brasileiros eram muitas vezes de boa qualidade, como Caetano Lopes de Moura – médico dos exércitos de Napoleão, cuja biografia escreveu, ou melhor, compilou; que publicou um pouco de tudo para viver, em Paris, inclusive algo muito útil aos seus patrícios: uma Arte se curar a si mesmo das doenças venéreas (1839).” (p.440)
COMENTÁRIO:
Como entendimento dessa passagem, para um bom desempenho literário não contava somente a produção, mas também com o público para quem estava sendo direcionadaessas produções e publicações, a vaidade também fazia parte dessa nova formação, pois,  Portugal e França eram  pioneiras  nas produções,  não só literárias, como também  modelo universalista por isso era algo “útil aos seus patrícios.”

TEXTO III- SOB O SIGNO DO FOLHETIM: Teixeira e Souza.
PARTE I
O culto da peripécia/ Se procurarmos analisar os elementos da ficção de Teixeira e Souza ( hesito em escrever – a sua arte), talvez  possamos distinguir quatro: peripécia, digressão, crise psíquica, conclusão moral.”
“A peripécia não é um acontecimento qualquer, mas aquele cuja ocorrência pesa, impondo-se aos personagens, influindo decisivamente no seu destino e no curso de sua narrativa. Ela é pois, em literatura, um acontecimento privilegiado, na medida em que(já vimos a propósito de Magalhães) é a verdadeira mola do entrecho, governando tiranicamente o personagem. Nos livros de Teixeira e Souza, este só se define por meio dela; não passa de elemento na concatenação dos acontecimentos, que, estes sim, constituem a alma, o esqueleto e o nervo do livro.” (p.445)

COMENTÁRIO:
As peripécias faziam parte exclusivamente da literatura nesse contexto de modificar um corpo literário, não é um acontecimento qualquer, como diz o autor nessa passagem, pois participa ativamente do enredo narrado, não é apenas mais um elemento, é um elemento que dispara o movimento da narrativa.
Outros elementos: “O segundo elemento da ficção de Teixeira e Souza, a que se chamou aqui digressão, consiste nessa sobrevivência dos romances medievais que é o elemento de histórias secundárias.” (p.447)

COMENTÁRIO:
Diferente do primeiro elemento, mas também de suma importância literária. Como por exemplo em Teixeira e Sousa, segundo o autor, são quase sempre os protagonistas que dão lugar a Digressão, que para ele não seria algo justaposto, mas essencial a narrativa.
“O terceiro elemento faz as vezes da análise psicológica, e aparece como violenta crise moral, que acomete a personagem a certa altura, fazendo-o sentir os seus crimes, medir o seu desespero, capacitar-se da sua situação em que se está.” (p.447)

COMENTÁRIO:
A crise moral como já nos dá uma ideia de entendimento, é o mais fácil de entender, mas talvez o mais difícil de explicar, principalmente vivenciar. Pois além de intensificar o enredo por causa das situações que se encontra as personagens, como, desespero, crimes e ao mesmo tempo capacitar-se diante dessas circunstancias para, como Victor Hugo chama a Vigília Trágica de Jean Valjean, dilacerado entre deixar condenar o homem que supõem ser ele próprio ( e assim conquistar a tranquilidade para sempre) esse é o dilema e ao mesmo tempo a contradição da Crise moral.

TEXTO I- RAÍZES DA CRÍTICA ROMANTICA
PARTE V
“Ao descrever os sentimentos e as ideias de um dado período literário elaboramos frequentemente um ponto de vista que existe mais em nós, segundo a perspectiva da nossa época dos que nos indivíduos que o interagem. Para contrabalançar a deformação excessiva deste processo, aliás, inevitável, é conveniente um esforço de determinar o que eles próprios diziam a respeito; de que modo exprimiam as ideias que sintetizamos  e interpretamos.” (p.635)

COMENTÁRIO:
Assim como a literatura nos permite permear e até mesmo diferir daquilo que estamos lendo, também é valido como nessa passagem termos um ponto de vista propriamente nosso e que possa ou não interagir com nossa época, mas é fundamental analisarmos com atenção as ideias expostas pelo fato dos conhecimentos contidos ali, ate porque a visão deles é tão quanto interessante como a nossa maneira que interpretamos tudo isso.
“[...] Daí um persistente exotismo, que eivou a nossa visão de nós mesmos até hoje, levando-nos a nos encarar como faziam os estrangeiros, propiciando, nas letras, a exploração do pitoresco no sentido europeu, como se estivéssemos condenados a exportar produtos tropicais também na cultura espiritual.” (p. 639)

COMENTÁRIO:
Nessa passagem é muito interessante, pois toca no nosso ponto “fraco” para não dizer, na nossa maior luta de todos os tempos, pois ainda que aconteceu uma  ruptura significativa no meio social, a literatura entre também outros aspectos muito ficam ainda a desejar, pois o modelo europeu ainda é muito forte aqui, e não é por causa da falta de beleza natural, de artes no geral, de produções maravilhosas, de talentos não, como brasileira, sem querer ser muito patriota, digo  que a nossa nação muito tem a contribuir que de alguma forma o modelo nacional de qual tanto desejamos fica um pouco ou muito a integrar com o modelo europeu, pois a nossa independência muito ainda está lá, na dependência europeia!

TEXTO II- TEORIA DA LITERATURA BRASILEIRA
PARTE VI

“A crítica brasileira do tempo do romantismo é quase toda muito medíocre, girando em torno das mesmas ideias básicas, segundo os mesmos recursos de expressão. Não se pode todavia negar-lhe compreensão  do fenômeno que tinha lugar  sob as suas vistas, e cujo sentido geral aprendeu bem, graças as indicações iniciais dos escritores franceses, embora nem sempre haja percebido os seus aspectos particulares.” (p.643)
“Provavelmente, as linhas internas de desenvolvimento não teriam conduzido a nossa literatura aonde foi depois de 1830; a renovação, dependeuentão, como sempre, do que se passava em nossas matrizes culturais.”  (p.643)

COMENTÁRIO:
Para chegarmos ate aqui, para conhecemos um pouco bem explicito da formação da literatura brasileira nessa obra, a crítica é a que mais prevalece nesse sentido de tentar formar uma literatura nossa, não foi fácil, não por falta de talentos entre outros aspectos fundamentais, mas por intermédio de modelos universalistas que estavam ou ainda está impregnado na nossa nação, por isso essa renovação, essa perspectiva de posse  literária exposta aqui, é muito interessante para nossa formação.

TEXTO III- CRÍTICA RETÓRICA
PARTE VII
“O Romantismo e o Nacionalismo legaram uma grande aversão pela retórica dos neoclássicos, que pareciam representar o próprio código da escravidão literária.Aquelas  regras constritora, originadas havia mais de dois mil anos, exprimiam o avesso do espírito criador, que, em princípio, se justificava não pela adesão a modelos genéricos, mas pela expressão livre de talento.”  (p.658)

COMENTÁRIO:
A formação da literatura brasileiradeu-se  a partir do Romantismo e o Nacionalismo, pois visavam uma maneira diferente de progresso nacional , que os neoclássicos tanto neutralizavam,  a parir dessa ideia romancista introduzida especialmente por Magalhães, deu inicio a uma nova conquista literária, mas ainda assim, a ruptura com Portugal, de fato não aconteceu, segundo Cândido. Houve uma ruptura de cunho político, mas não literária como tanto fez que ainda muito há de fazer.

TEXTTO IV- FORMAÇÃO DO CÃNON LITERÁRIO
PARTE VIII
“A investigação biográfica/ “Além da iniciativa de elaborar um corpus pela publicação de textos, a tarefa imediata rumo a história literária eram as biografias, isto é, os conhecimentos dos indivíduos responsáveis pelos textos, como exigia cada vez mais a nova crítica, adequada ao espírito romântico.  A ela se atiraram muito ao brasil.” (p.665)

COMENTÁRIO:
O que os românticos buscavam nessa nova fase de publicações de textos, o desempenho dos escritores e principalmente a biografia quemuito constava, era a nova realidade nacional, os conhecimentos dos escritores, e tudo isso necessitam de agilidades certeiras, mas nem todos possuíam senso de sabedoria, de rapidez, de conhecimento mesmo,  para ingressar nessa do espírito romântico de renovação e também de valorização nacional.  E a exaltação se fazia presente em todas as publicações justamente para fazer valer essa de “embelezamento de herói”não referente as biografias, mas também os conteúdos de produções. 
CRÍTICA VIVA                     
PARTE IX
“Se procurarmos uma crítica viva, empenhando a personalidade e revelando preocupação literária mais exigente, só a encontraremos em alguns poucos ensaios, artigos, prefácios, polemicas, na maioria incursões ocasionais de escritores orientados por outros gêneros:Dutra e Mello, Junqueira Freire,  Alvares de Azevedo, José de Alencar, Franklin Távora , Francisco Otaviano, Bernardo Guimarães, Gonçalves Dias; no fim do período, alguns artigos excelentes de Machado de Assis.” (p. 670)

COMENTÁRIO:
A natureza crítica literária foi dotada de grande argumentos equivalentes a grande necessidade de ajustamento e de reconhecimento de uma nação capaz de produzir e formar a sua própria  cultura. Nessa passagem, vimos que essa preocupação literária se fazia presente a todo  momento,  havia ali uma parceria forte entre os escritores, uma espécie de complemento nas produções literárias, na qual tinha orientações por outros gêneros, como foi citados na passagem selecionada.











[1]Resenha crítica solicitada pelo docente Dr. Oton Magno Santana Dos Santos para obtenção de crédito parcial da disciplina Cânones e Contextos na Literatura brasileira da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias Campus XX – Brumado, em Julho de 2017.

[2]Graduanda do IV Semestre do Curso de Letras Vernáculas da UNEB, DCHT Campus XX – Brumado, em Julho de 2017.



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quarta-feira, 10 de abril de 2019

RESENHA INFORMATIVA DO LIVRO - ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA - JOSÉ SARAMAGO

I-SARAMAGO, José de Sousa. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo, Companhia das Letras, 1 Edição, 1995.[1]
Joselene Souza Pires [2]
II- INFORMAÇÔES SOBRE O AUTOR
                     José de Sousa Saramago nasceu na província portuguesa do Ribatejo em 1922 e mudou-se para as ilhas canárias na Espanha, onde permaneceu ate o fim de sua vida, falecendo em 2010. Foi escritor roteirista, jornalista, dramaturgo e poeta português galardoado com o Nobel de Literatura em 1988, também ganhou o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua Portuguesa. Publicou o seu primeiro livro, o romance “Terra do Pecado” em 1947, tendo estado depois sem publicar ate 1966. Entre os livros de maior destaque estão o “Memorial do Convento” (1982) e “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991). Foi diretor literário de editora, crítico na Seara Nova, autor de comentários políticos no diário de Lisboa e diretor- adjunto do Diário de Notícias (1975). A partir de 1976, dedicou-se exclusivamente à Literatura. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em Língua Portuguesa.

III- EXPOSIÇÃO SINTÉTICA DO CONTEÚDO DO TEXTO

                     Em o Ensaio sobre a Cegueira, Saramago pretende “abrir” os olhos da sociedade diante da realidade existente. A cegueira de perceber o real, não pela falta do ver propriamente dito, mas do olhar e enxergar o movimento da crise do real.  Saramago traz na obra uma crítica a sociedade, das relações humanas, a crítica da democracia, do individualismo, dos alienados que na maioria das vezes é alienado por escolha, o sujeito que vive alienado e também o abuso dos poderes públicos, a falta de compromisso dos políticos  para com a sociedade. Uma cegueira que estende-se na política, na ética, na moral, das relações humanas no contexto social do ser. A sociedade que veda os próprios olhos diante das desgraças presentes na sociedade e ainda perguntam: Que país é esse?  E ao mesmo tempo são sujeitos “cegos” por falta do conhecimento do próprio lugar que se vive. A cegueira que Saramago traz na obra representa a ignorância mental dos “inteligentes” e também dos “ignorantes” vivem cegos, os inteligentes por que não fazem uso dos conhecimentos para uma melhoria coletiva e sim, individual, o que acarreta o autoritarismo, a dominação diante dos dominados. É uma obra que transita por vários ares e traz indagações e reflexões principalmente de cunho político. 

PARTE I

“[...] Estou cego”.
“Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é  possível, apenas de relance, os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana. As pálpebras arregaladas, a pele crispada da cara, as sobrancelhas de repente revoltas, tudo isso, qualquer o pode verificar, é que se descompôs pela angústia. Num movimento rápido, o que estava a  vista desapareceu atrás dos punhos fechados do homem, como se ele quisesse reter no interior do cérebro a última imagem recolhida, uma luz vermelha, redonda, num semáforo . Estou cego, estou cego, repetia com desespero...”(p. 12)
“[...] Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra. Pois eu vejo tudo branco, Se calhar a mulherzinha tinha razão, pode ser coisa de nervos, os nervos são o diabo, eu bem sei o que é uma desgraça, sim, uma desgraça.” (p. 13)

COMENTÁRIO

Saramago inicia o livro com a ideia explícita do que retrata o Ensaio sobre a Cegueira, que não é uma cegueira que se pode ser curada por oftalmologista, pois não representa a cegueira negra como é conhecida e sim, a cegueira branca, que uma espécie de deficiência causada por problemas sociais e não físicos.  Nesta obra Saramago enfatiza a questão do olhar e não enxergar o que remete a realidade que o autor pretende abordar. Os olhos estão sãos clinicamente, mas apresenta a cegueira branca, uma veda nos olhos que incapacita o ser humano de enxergar o óbvio diante dos olhos. E as  desmandas sociais causadas por essa falta de ‘’visão’’ dessa gente, e essa cegueira é ativamente a falta de conhecimento que cerca a sociedade e que desencadeia uma série de problemas. 

PARTE II

“Ao oferecer-se ajuda para ajudar cego, o homem que depois roubou o carro não tinha em mira, nesse momento preciso qualquer intenção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez foi obedecer àqueles sentimentos de generosidade e altruísmo que são, como toda gente sabe, duas das melhores características do gênero humano, podendo ser encontradas ate em criminosos bem mais empedernidos do que este, simples ladrão zeca de automóveis sem  esperança de avanço na carreira, explorados pelos verdadeiros donos do negócio, que esses é que se vão aproveitando das necessidades de quem é pobre. No fim das contas, estas ou as outras, não é assim tão grande  a diferença entre ajudar um cego  para depois o roubar e cuidar de uma velhice caduca e tatebitate com os olhos postos na herança”. (p.25)
“A consciência moral, que tantos insensatos tem  ofendido e muitos renegados, é coisa que existe e existiu sempre, não foi uma invenção dos filósofos do Quaternário, quando a alma mal passava ainda de um projeto confuso. Com o andar dos tempos, mais as atividades das convivências e das trocas genéticas, acabamos por meter a consciência na cor do sangue e no sal das lágrimas, e, como se tanto fosse pouco, fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para  dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca”. (p. 26)

COMENTÁRIO
                                              
Saramago nessas passagens traz á tona a questão das relações humanas, da falta de empatia e também de ética para com o próximo, faz uma crítica a  maneira como os seres se relacionam de maneira  egoísta e individual, capitalizando assim até as relações humanas de ajudar e ser ajudado. “fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro”  Saramago enfatiza a individualidade que causa distanciamento das trocas interpessoais, das relações coletivas, do bem estar social e individual, e isso remete não somente a falta de compromisso com o outro, mas também dos seres que vivem alienados, do aproveitamento do poder que tem não para ajudar, mas para usar, faturar mais e mais sobre aqueles que estão dominando uma parcela de alienação muito grande. 

PARTE III

“[...] A cegueira não se pega, a morte também não se pega, e apesar disso todos morremos”.
“[...] Lembre-se que estou cego foi por ter observado um cego, não há a certeza, há pelo menos uma boa presunção de causa e efeito”. (p.41)

COMENTÁRIO

Nessas passagens, a cegueira que ‘’contagiou’’ toda a cidade a etiologia do mal-branco, retrata uma sociedade alienada, uma boa parcela, uma maioria que apresenta os mesmos sinais de uma cegueira branca que leva ao mesmo mal, uma espécie de falta de compreensão do próprio ser que leva uma percepção de causa e efeito, que não só de observar, mas de reparar e assim, ver, e nessa de ver, saber posicionar-se de maneira a não se deixar contaminar ou contagiar por uma sociedade que tem olhos, mas não veem. 

PARTE IV

“O governo lamenta ter sido forçado a exercer energicamente o que considera ser seu direito e ser dever, proteger por meios as populações na crise que estamos a atravessar, quando parece verificar-se algo de semelhante a um surto epidérmico de cegueira, provisoriamente designado por mal-branco, e desejaria poder contar com o civismo e a colaboração de todos os cidadãos para estancar a propagação do contágio...”(p.49)
“[...] Pensando que o isolamento em que agora se encontram representará, a cima de quais quer outras considerações pessoais, um ato de solidariedade para com o resto da comunidade nacional”. (p.50)

COMENTÁRIO

Saramago aborda posicionamentos políticos diante da comunidade, das atitudes governamentais decididas sem o consentimento ou uma observação mais solidaria da própria sociedade,  problemas que agravam uma série de outras mazelas.  Usam o poder que tem, não para o bem comum, mas para manipular e corromper a sociedade.

PARTE V 
                                         
“[...] Se antes de antes de cada ato nosso nos pudéssemos  prever todas as consequências dele, e pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover- nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar”. (p. 84)

COMENTÁRIO

Nesta passagem, Saramago enfatiza lindamente a questão da reflexão em todos os sentidos, especialmente as das nossas ações que é uma das causas e efeitos de tudo, da lei do agir e esperar, e ainda nessa questão problematizadora do ser humano que está escassa cada vez mais,  nos colocando diante do pensar acima de tudo, inclusive a de questões sociais, políticas é um convite a reflexão.

PARTE VI

“[...] Temos aqui um coronel que acha que a solução era ir matando os cegos á medida que fossem aparecendo, mortos em vez de cegos não alteraria muito o quadro, estar cego não é estar morto, sim, e que fazemos aos condutores dos autocarros, metem-nos lá dentro.”(p. 111)
COMENTÁRIO                       
Aqui, nessa passagem, relata a falta de empatia, de solidariedade e de humanidade também em que, por conta da cegueira a ideia seria matar, como que se cegos fossem inúteis e que a morte seria melhor que a cegueira. O abuso do poder juntamente com a maldade, a crueldade estampada nas ações de todos os dias. E que esse poder está justamente nas mãos dos “coronéis”  o que pode ser uma das questões mais evidentes da obra.

PARTE VII 
                                               
“[...] Se não somos capazes de vivermos inteiramente como pessoas, ao menos, façamos tudo para não vivermos como animais, tantas vezes o repetiu  que, o resto da camarata acabou por transformar em máxima, em sentença, em doutrina, em regra de vida, aquelas palavras, no fundo simples e elementares”. (p. 119)
“[...] O medo lá fora é tal que não tarda que começam a matar pessoas quando perceberem que elas cegaram, aqui, já liquidaram dez, disse uma voz de homem”.  (p.120)

COMENTÁRIO
 Novamente Saramago aborda a falta de comprometimento, de amor com os nossos semelhantes e chama a atenção dessa questão durante todo o decorrer do livro. E assim, faz uma crítica a podridão das relações humanas. 

PARTE VIII

“[...] E tu, como queres tu que continue a olhar para estas misérias, tê-las permanentemente diante dos olhos, e não mexer um dedo para ajudar, o que fazes já é muito, que faço eu, se a minha maior preocupação é evitar que alguém se aperceba de que vejo, alguns irão odiar-te por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, também não nos tornou piores, vamos a caminho disso, vê tu só o que se passa quando chega a altura de distribuir a comida”. (p. 135)

COMENTÁRIO

 O médico e sua mulher nesse instante discute a  questão da preocupação mútua um para com o outro, ela porque pode enxergar todas as mazelas existentes ali, ele por não poder ajuda-la e ao mesmo tempo, preocupa-se com o bem dela, a carga que está sob toda sua responsabilidade e também a empatia tanto dele  quanto dela em ter essa percepção das crises e maldades existentes ali. E é essa empatia, esse cuidado que as pessoas estão precisando ter para ofertar que Saramago aborda.

PARTE IX

“[...] A mulher do médico tornou a contar os que dormiam lá dentro, com este são vinte, ao menos levava dali uma informação certa, não tinha sido inútil a excursão noturna, mas terá apenas para isto que vim  para cá, perguntou a si mesma, e não quis procurar a resposta.”(p.157)

“[...] Lá dentro, na camarata, a cega que não conseguia dormir continuava sentada na cama, á espera de que a fadiga do corpo fosse tal que acabasse render a resistência obstinada da mente.” (p.158)
COMENTÁRIO
 A mulher do médico por possuir o poder de enxergar tudo ali com cautela, com ar de conhecer a realidade melhor do que os que ali estavam cegos, era a cauda que os cegos estavam seguindo, todos sob seu cuidado, observando as relações de “espertezas” que ali apresentavam entre as camaratas da direita e da esquerda, e a mulher do médico representa uma minoria na nossa sociedade, exercendo seu papel de cidadã diante do seu e do bem coletivo com senso de justiça.

PARTE XI 
               
“[...] Pode-se portanto imaginar a revolta, a indignação, e também, doa a quem doer, fatos são fatos, o medo das camaratas restantes, que se já se viam assaltadas pelos necessitados, divididas, elas, entre os deveres clássicos da humana solidariedade e a observação do velho e não menos clássicos preceito de que a caridade bem entendida por nós próprios é que terá de começar”. (p.163)

“Passados uma semana, os cegos malvados mandaram recado de que queriam mulheres. Assim, simplesmente, tragam-nos mulheres”.
“[...] a resposta foi curta e seca, se não nos trouxerem mulheres, não comem. Humilhados, os emissários regressaram ás camaratas com a ordem, ou vão lá, ou não nos dão de comer”. (p.165)

 COMENTÁRIO
Nessa passagem dá início a parte mais medonha do livro, onde as pessoas perdem a própria sensibilidade pelo semelhante, o senso de animal selvagem falou mais alto e todos tinham que arcar com as ordem impostas ali, e assim, nem diante das situações precárias que todos estavam submetidos, a questão dos dominadores e dos dominados entra nas ordens, e as mulheres teriam de pagar por isso a todo custo. E necessidades por necessidades, todos ali necessitavam de alimentos, e os alimentos que deveriam ser distribuídos igualmente para as camaratas, uma das estavam comandando tudo, e assim, as questões morais, éticas e sócias que dão um destaque especial nessa passagem.

PARTE XII

“[...] Tinha sangue nas mãos e na roupa, e subitamente o corpo exausto avisou-a de que estava velha, velha e assassina, pensou,  mas sabia que se fosse necessário, tornaria a matar, e quando é necessário a matar, perguntou-se a si mesma enquanto ia andando na direção do átrio, e a si mesma respondeu, quando está morto ainda é vivo”. (p.189)

 COMENTÁRIO
 Nas ultimas circunstâncias, a mulher do médico usou o seu poder para dá um fim em um dos cegos que estavam chefiando todas camaratas, e ainda assim, diante de toda situação a mulher ainda refletiu sobre os seus atos de cometer um homicídio o que talvez não estavam nos seus planos. Mas por vias das circunstancias cometeu o ato. O que nos coloca também diante de uma reflexão interessante. Nessa passagem Saramago aborda a questão da ação, da defesa diante de tais situações. A luta pelos seus deveres e direito de justiça.

PARTE XIII

“Diz-se a um cego, estás livre, abre-se- lhe a porta que o separava do mundo., vai, estás livre, tornamos a dizer-lhe, e ele não vai, ficou ali parado no meio da rua, ele e os outros estão assustados, não sabem para onde ir, é que não há comparação entre viver num labirinto racional, como é, por definição, um manicómio, e aventurar-se sem mão de guia sem trela de cão, num labirinto dementado da cidade, onde a memória para nada servirá, pois apenas será capaz de mostrar a imagem dos lugares e não os caminhos para lá chegar”. (p. 212)
COMENTÁRIO
Os cegos conseguiram sair do lugar onde estavam enlatados onde se encontravam, e depois todos que ali formaram um pequeno grupo, um a depender do outro e a mulher do médico a comandar tudo. Mas por vias das circunstâncias, sair do lugar encarcerados onde estavam, para alguns cegos não foram tatas vantagens por conta da cegueira, nessa passagem, o autor enfatiza a questão do poder de sair de uma situação de dominação do poder público, pois chegaram a conclusão de que o pior já teriam passado e assim, ainda sob o comando de alguém em quem poderia confiar, mas que o fato da cegueira nos torna alienados de alguma maneira, mesmo que não percebam essa alienação camuflada.

PARTE XIV
                          
“[...] Eu continuo a ver, felizmente pra ti, felizmente para o eu marido, para mim, para os outros, mas não sabes se continuarás a ver, no caso de vires a cegar torna-te ás igual a nós...”(p.241)
“[...] A responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam, não podes guiar nem dar de comer a todos os cegos do mundo...”(p.241)

 COMENTÁRIO

  Saramago enfatiza a questão do querer e nem sempre poder, pois estava demasiadamente complicado não somente para a mulher do médico, mas também todos que ali estavam e queixavam-se em não poder quase nada ou nada fazer para mudar aquela realidade.

PARTE XV
  
  “[...] Agora não, agora somos todos iguais perante o mal e o bem, por favor, não me perguntem o que é o bem e o mal, sabíamo-lo de cada vez que tivemos de agir no tempo em que a cegueira era uma exceção, o certo e o errado são apenas modos diferentes de entender a nossa relação com os outros, não a que temos com nós próprios...”. (p.262)

COMENTÁRIO   
  Saramago nessa passagem dessa obra, traz a indagação e também a reflexão diante dos acontecimentos de toda a situação, mostrando assim que somos seres dotados de defeitos e também de qualidades, e que nem todos são como nós, nem todos os nossos semelhantes agiria de boa ou má fé de acordo com as necessidades do próximo, e o seu bem estar diante dessas ações consideradas importantes para o desenvolvimento humano.

PARTE XVI

“[...] Terás razão, talvez, mas a experiência dessa cegueira só nos trouxe morte e miséria, os meus olhos, tal como o teu consultório, não serviram para nada, graças aos teus olhos é que estamos vivos, disse a rapariga dos óculos escuros, também os estaríamos se eu fosse cega, o mundo está cheios de cegos vivos...”(p. 282)

COMENTÁRIO   

    Enfatiza nessa passagem a importância de poder enxergar não somente o óbvio, mas também o poder de questionar a cegueira branca na nossa sociedade, como diz a personagem: O mundo está cheio de cegos vivos, a cegueira é também uma espécie de morte, a pior espécie de morte que o autor aborda nesse instante, é o de continuarmos existindo, não vivendo, participando ativamente como cidadãos.

PARTE XVII

“[...] Proclamavam-se ali, os princípios fundamentais dos grandes sistemas organizados...”
[...] Aqui fala-se de organização, disse a mulher do medico ao marido, já reparei, respondeu ele, e calou-se”. (p.295)
“[...] O primeiro grito ainda foi o da incredulidade, mas com o segundo, e o terceiro, e quantos mais, foi crescendo a evidência, Vejo, vejo, abraçou-se à mulher como louco...”(p.306)

COMENTÁRIO 
                                             
Durante todo o percurso do livro, fica evidente as críticas e as reflexões das ações humanitárias diante da sociedade, o abuso do poder público, as mazelas, as desgraças, a falta de conhecimento dos próprios direitos da sociedade  que levam a cegueira. Durante toda a leitura, Saramago cutuca e crítica a democracia, a cegueira dos olhos voltados para si, que incapacita o ser humano de ser ativamente bom diante das fraquezas próximo.                                              



[1] Resenha crítica solicitada pelo docente Me. André Pedreira para obtenção de crédito parcial da disciplina Seminário de Pesquisa Interdisciplinar SIP -  IV da Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias Campus XX – Brumado, em Junho de 2017.
[2] Graduanda do IV Semestre do Curso de Letras Vernáculas da UNEB, DCHT Campus XX – Brumado, em Junho de 2017.

HANDAUT SOBRE O LIVRO LÍNGUA TEXTO E ENSINO: OUTRA ESCOLA POSSÍVEL / IRANDÉ ANTUNES

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